Posts de Ana Bárbara Ferreia

O “tarifaço” anunciado por Donald Trump impôs sobretaxas a diversos países, mas o agronegócio brasileiro saiu relativamente preservado. Produtos do Brasil sofrerão uma tarifa de apenas 10%, abaixo das impostas a concorrentes como o Vietnã. O café, por exemplo, deve manter competitividade nos EUA. Apesar das incertezas sobre aplicação das novas tarifas em produtos como etanol, carne e açúcar, especialistas veem espaço para o Brasil ampliar suas exportações agrícolas e reforçar parcerias, especialmente em um momento de alta na demanda global.

A Ajinomoto do Brasil, tradicional no setor de alimentos, foi escolhida pelo governo japonês como parceira no programa de recuperação de pastagens degradadas. A empresa fornecerá bioestimulantes produzidos a partir da cana-de-açúcar para testes em fazenda-modelo no Brasil, dentro de um projeto bilateral que vai até março de 2026. O insumo, um coproduto da linha de temperos, será aplicado sem aporte financeiro direto da empresa. Com quatro fábricas no país, a Ajinomoto já atua em diversas culturas, como frutas, café, grãos e pastagens.

O programa nacional de recuperação de pastagens, que o governo quer apresentar como vitrine na COP30, enfrenta entraves na liberação de recursos e na definição dos juros. A previsão inicial de repasses a 6,5% ao ano pode subir para 8%, gerando tensão entre Ministério da Agricultura e Tesouro. O leilão do Eco Invest, essencial para captar os US$ 1,3 bilhão esperados, ainda não foi realizado. Divergências também surgem sobre critérios ambientais para acesso ao crédito, como o desmatamento zero. Especialistas temem que atrasos comprometam a execução até novembro.

A produção de soja na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) cresceu 114% na última década, segundo a Conab. A projeção para os próximos dez anos indica expansão média de 11,01% ao ano. Com diversidade de propriedades e avanços logísticos, a região se consolida como fronteira agrícola estratégica. Além da soja, a produção total de grãos aumentou 84,32% no período. O potencial do Matopiba ainda é subaproveitado, mas especialistas veem na combinação de clima, solo fértil e infraestrutura fatores-chave para impulsionar novos recordes.

As cotações da soja na Bolsa de Chicago caíram após o anúncio de novas tarifas dos EUA contra China e União Europeia. O contrato para maio recuou 1,75%, e o de julho, 1,79%. A guerra comercial intensificada entre EUA e China favoreceu o Brasil, cuja safra abundante atrai compradores globais. Mesmo com o real desvalorizado, os prêmios nos portos brasileiros subiram, contrariando a tendência sazonal. O país se fortalece como fornecedor de soja diante da menor competitividade americana no mercado internacional.

Com a Selic em alta e o orçamento apertado, o Ministério da Agricultura avalia elevar os juros do crédito rural no Plano Safra 2025/26, sem reduzir o volume total de recursos. A Pasta busca alternativas criativas, como flexibilizar regras das LCAs, usar o Fundo Social do pré-sal e expandir linhas dolarizadas do BNDES. A Aprosoja alerta que, sem suplementação orçamentária, o crédito será o mais caro em uma década, podendo reduzir a produção e elevar o preço dos alimentos. A entidade propõe reforço de R$ 10 bilhões para evitar retração nos financiamentos.

O Ministério da Agricultura avalia o “Programa Sempre Verde”, que propõe desconto de 1 ponto percentual nos juros do crédito rural para produtores que adotarem plantas de cobertura na rotação de culturas. A medida visa estimular a chamada “terceira safra”, com espécies como braquiária e milheto, promovendo cobertura vegetal contínua, sequestro de carbono e saúde do solo. Com potencial de atingir 16 milhões de hectares no Cerrado, a proposta pode reduzir em até 24 milhões de toneladas as emissões de CO₂ anuais. O programa é inspirado em iniciativas similares na Europa e nos EUA.

Abril será um mês estratégico para o agro nacional, com a realização de quatro grandes feiras que podem gerar entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões em negócios. A ExpoLondrina, Tecnoshow Comigo, Norte Show e Agrishow acontecem nos Estados do PR, GO, MT e SP, reunindo milhares de visitantes e centenas de expositores. Destaques incluem tecnologia agrícola, atrações culturais e perspectivas positivas para o setor. A Agrishow, por exemplo, celebra 30 anos com previsão de crescimento de 8% sobre os R$ 13,2 bilhões movimentados em 2024.